sexta-feira, julho 18, 2014

Viva ao feio!

Afinal por que não posso achar bonito o que chamam de trash? Qual o problema em fumar o bom e velho Eight? Velho Barreiro é a melhor cachaça de até 10 reais que tem. Gosto dos trens quando eles cheiram a mofo. Metrô consegue ser ainda melhor, como se tivessem tirado um vagão das profundezas da terra úmida só para me levar até o trabalho. Ou então que muita gente suada tivesse se esfregado em cada parte dele e seu suor, ao secar, gerasse o cheiro de mofo. Gosto de pisos de madeira velha, aqueles tacos pesados que em cinco anos de uso se soltam e viram um buraco de pó dentro do apartamento. Ah, e os apartamentos? Esses antigos do centro velho de São Paulo? Esses são meus preferidos. As janelas encardidas de anos de fuligem e ar altamente poluído. Desde o odor de urina nas calçadas até o cheiro de sujeira nas escadas. As portas são encardidas, especialmente perto das maçanetas. As torneiras já tem tantos anos que colorem a água de marrom devido ao ferrugem. O cheiro é especial. Cheiro que demorou anos para maturar, cheiro de todas as pessoas que por lá já viveram. Os apartamentos antigos são fascinantes, até suas goteiras e vazamentos são charmosos.
Gostar do que é feio vai além do que pode ser visto. Por exemplo, musica. Tenho ouvido muita musica que me faz pensar sobre o porquê delas não serem populares como deveriam pois falam de rotina ou pelo menos de pensamentos rotineiros. Com linguajar fácil e termos normais que usamos no dia a dia. "Quando você mija, você lava as mãos, antes ou depois, antes e depois ou nem antes nem depois?" A simplicidade com que essas perguntas e temas rotineiros como "bater punheta", "cagar em banheiro público" e "apanhar na rua" faz com que eu goste das músicas por entender que minha rotina rendeu boas músicas. Minha rotina é importante sim, inspira, sim! Acabamos aprendendo depois de anos dando murro em ponta de faca que na verdade as coisas não são perfeitas quanto deveriam ser quando compramos a ideia. Uma caixa de som remendada com fita isolante, não necessariamente é uma caixa de som ruim, não está perfeita como a ideia original, mas ela funciona e está lá. Temos a impressão de que as ideias que compramos tem de ficar intactas e perfeitas, mas elas mudam, como nós. E aí não dá pra ignorar, é uma ideia, você abraçou aquilo, mesmo que mude da ideia original, ela é sua! Viva ao feio, viva ao trash, viva as coisas entediantes, as rotineiras, aos detalhes dessas coisas.

A felicidade nunca é plena. Ela vem em pequenas doses diárias que devem ser bebericadas como o mais nobre dos vinhos.