sexta-feira, agosto 15, 2014

desde sei lá quando

Você se lembra daquele rapaz magrinho? Estava sempre escondido, não andava com ninguém só falava o necessário. 

E aquela menina que passava os intervalos da escola escondida atrás da quadra, lendo, você se lembra? 

Tinha também aquele gordinho que ficava procurando alguém para jogar xadrez com ele na aula de Educação Física, já que era excluído do futebol. 

Antes disso, ainda tinha também aquela que tinha piolho e as roupas eram velhas e nem sempre limpas. Era negra, a mulecada olhava estranho, não gostava muito. 

E tinha eu. E tinha você. 

O rapaz magrinho, que lá no Ensino Fundamental era tão excluído que nunca nem nos preocupamos em saber o nome, hoje tem carro, mora sozinho, está terminando a faculdade. Está namorando uma garota linda, magra e alta, e todo fim de semana ele vai a vários bares com um grupo de amigos no centro da cidade. 

Aquela menina gordinha que ficava lendo sem falar com ninguém, eu a vi outro dia. Ela hoje está estudando direito na França. Casou com um francês e eu sempre vejo suas fotos muito apaixonada, feliz e rodeada de amigos. 

O gordinho do xadrez, este foi o melhor de todos. Emagreceu, ficou alto e virou modelo. Pra se ter uma ideia, eu nem consigo te dizer onde é que ele está agora, mas da última vez que vi, estava parado num farol com um carrão e tinha muitas mulheres dentro. 

A piolhenta? A piolhenta cresceu, aprendeu a lavar roupa, alisou seu cabelo, arranjou emprego, fez faculdade e hoje é CEO numa grande empresa. 

E eu? 
E você? 

Estamos a margem. Querendo ser tão aparentemente bons quanto os nossos excluídos. Estamos frustrados, na nossa época que era só uma brincadeira, hoje é uma infração. E o que inocentemente era uma predestinação, se tornou uma mentira. 

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