terça-feira, setembro 11, 2018

Acalento

Passei a mão em suas costas.
Estava coalhada de verrugas minúsculas, pintas marrons e manchinhas que pareciam Coca-Cola. Parecia exausto, exalava cheiro de cigarro e tinha a pele desgarrada do osso. O corpo estava pesado de bruços na cama ao meu lado.
- Não consigo dormir. Faz três semanas que não durmo.
- Tente se lembrar de algo que te faz dormir, um afago, leite com mel, sexo oral.
Virou-se de costas para mim, de lado na cama. Afaguei seu cabelo lentamente enquanto encostava meus seios quentes em suas costas. Tentei fazer meu corpo encaixar perfeitamente na curva das suas costas enquanto fazia cafuné.
- Eu poderia dormir assim.
Beijei suas costas mil vezes lentamente, e igual um gato passei a lateral do rosto em seu corpo. Repousei meu queixo em seu ombro, exalando suavemente meu cheiro para suas narinas inalarem, hidratante de ameixa pós banho. Então estendi um braço por cima da lateral de seu corpo dando a volta no abdômen e prendendo-o em mim. Comecei um embalo lento, morno e relaxante entre nossos corpos nus enlaçados embaixo de um cobertor, que lembrava um ninar de criança.
Dormiu. A face relaxou de tal forma que parecia outra pessoa. Talvez fosse.

Egon Schiele - The Embrace 1917


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