quarta-feira, março 09, 2016

hoje

Hoje eu acordei com aquele hit "hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua..." e eu realmente precisava. Mas eu não queria ouvir qualquer palavra e muito menos se fosse dito com aquele tom frio e formal dos bom dias de elevador, que é só o que você vem me oferecendo nos últimos anos.



Mas pensando bem, eu aceitaria até um bom dia formal num elevador.

Eu queria encontrar você andando pelas calçadas comerciais de São Paulo, já tão estranho a mim com terno e gravata. Sem aquelas bochechas rosadas e com aquele sorriso, ah aquele sorriso que eu ainda sou apaixonada, reto, alvo, com os caninos levemente saltados.
Eu queria entrar no meu email e ler um "oi". Eu queria ainda ter sua camiseta verde da Irlanda que ficou em casa desde a última vez que você esteve lá.

Mas sabe, eu queria só isso mesmo. Mais nada.
Fico olhando para os homens ao meu redor tentando ver qualquer semelhança, a mais mera lembrança de você nos semblantes alheios.
Mas é incrível como nunca acho nada.
Uma rede social me lembrou que a 5 anos atrás eu trançava sua mecha na cabeça, aquela que você mantinha grande diferente de todo o resto da cabeleira raspada. Eu fazia isso no meio da sala de aula, e rabiscava sua mão de caneta enquanto você dormia com a cabeça na minha mesa, durante uma aula qualquer.

De manhã me lembrei de você reclamando que meu café era ruim, e eu reclamando que seu ronco me deixou dormir bem pouco.

Eu não quero você de novo, porque o que passou revive em minha lembrança todos os dias. Eu queria viver tudo com você de novo, mas só hoje.




***esta crônica faz parte de um conjunto de crônicas que tratam dos mesmos personagens, todas identificadas com o marcador "Janeiro"***

Nenhum comentário:

Postar um comentário