sexta-feira, outubro 31, 2014

Camundongos de estimação

Hiago tem camundongos de estimação. Ele não sabe mensurar quantos são e nem onde eles ficam, mas eles estão por aí. Hiago os vê e alimenta-os na estação Barra Funda. Enquanto aguarda o trem, seus camundongos preferidos, o Paulinho e o Arnaldo, aparecem entre as ferragens e Hiago os admira. A pelagem acinzentada como se tivessem cobertos de fuligem, ou como se tivessem escapado rapidamente pelo carburador de um carro velho.

Paulinho e Arnaldo são os mais velhos de uma ninhada inteira que Hiago conhecia desde sempre. Na verdade não havia como determinar quais eram Paulinho e Arnaldo ou quais eram de outra ninhada, mas para Hiago, todos eram da ninhada de Paulinho e Arnaldo.
Hiago sempre mantinha em sua mochila um pacote de amendoins para seus camundongos. Ao descer a escada rolante, Hiago já se posicionava na beira da plataforma, para além da linha amarela de segurança e observava atentamente linha de ferro do trem. Qualquer movimento, o mínimo chacoalhar do mais imundo papel entre a malha de ferro, Hiago sabia que era Paulinho ou Arnaldo. Despejava o amendoim na linha e os via roer e arrastar os grãos até um buraco qualquer na parte abaixo da plataforma. 

Eram tão pequeninos, era incompreensível para Hiago os olhares das outras pessoas na plataforma, com nojo ou achando que Hiago era louco. Eles não podiam fazer mal algum a ninguém. 

Certo dia Hiago sonhou um sonho louco. Sonhou que Paulinho e Arnaldo lhe agradeciam. Empinavam o focinho minúsculo para cima e entre seus dentes tão grandes, saía um ruído que lhe parecia um "muito obrigado Hiago". 

Então toda vez que Hiago os alimentava, ficava olhando para Paulinho e Arnaldo, quando eles cheiravam o alimento, esperando que o sonho fosse verdade.



*este conto faz parte da série infanto-juvenil "Quem conta um conto, ganha um ponto", postado originalmente em 28/08/13

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