segunda-feira, outubro 20, 2014

VIDA NÃO É JUSTA

Você nasce. Aí começa a crescer.

Percebe que sua mãe é a melhor pessoa do mundo e seu pai é seu super herói.
Você não tem motivo nenhum pra sentir ódio ou raiva. Musica te faz bem. Seus brinquedos e seus irmãos são seus maiores companheiros. Brincar é tudo o que há de melhor no mundo. Toddynho combina perfeitamente com Castelo Rá Tim Bum, Goku é tão foda quanto deus, Dragonball e Pokémon viram religião, filosofia de vida.
Aí vem os esportes. O futebol na rua com a molecada, as risadas, os dedos esfolados, as traves de chinelo.
As lutas, as corridas, os mergulhos, as pipas, os doces.
Tudo se resume a meia dúzia de balas e bolinhas de gude, não existe preocupação.
Só que um dia você se dá conta de que as coisas já não tem tanta graça.
Sua aparência te preocupa, passa a ser mais importante que o carro do churros. Você se sente estranho quase sempre. Deslocado, no lugar errado e na hora errada do mundo inteiro.
Começa a ter desejos que te deixam envergonhado, começa a considerar a ideia de pecado. Só que a pressão dentro de você é tanta, que passa então a se rebelar contra si mesmo em busca de preencher um vazio.

Um vazio que é maior que um buraco negro no espaço e que vai te torturar sem pena.

Vem as alternativas. Amigos, que preenchem parte do espaço do buraco negro como um aerosol que se dissipa no ar com o passar do tempo.
Bebidas, drogas, que te tiram de perto do vazio e te levam pra um lugar estranho dentro da sua própria cabeça.
Sexo, que faz você achar que o buraco negro dentro de você era mentira, por um curto momento.
Então cansado de lutar contra si mesmo, você encara o vazio enorme dentro de si, e tenta aprender com ele. Passa anos levando-o consigo ao trabalho todos os dias, porque você tem que trabalhar agora.

Então um dia, o buraco negro e vazio que te ocupa, começa a lhe sorrir, e você, ao sorrir de volta, vê alguém através dele. E então, percebe que não é o único estranho no mundo a ter um vazio amargurado como bicho de estimação. E isso acaba te aproximando de um semelhante. Até que, sem perceber, você se dá conta de que seu vazio negro amargurado se uniu ao buraco negro angustiante do semelhante, levando os dois a um abismo negro de instabilidade e incertezas que as vezes, as pessoas chamam de amor.

É tarde demais pra retornar, e mesmo se conseguir, quando retornar a superfície da realidade, seu vazio será dez vezes maior, levando junto pra escuridão as poucas coisas que o aliviava. A vida não é justa, não é mesmo? Mas ainda é possível confiar uns nos outros pra nos puxar do abismo que existe dentro de todos nós.

*originalmente postado em 25/06/14

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